segunda-feira, 2 de maio de 2011

Review Cloth Myth: 1 - O desenho


Deu vontade e vou escrever sobre isso. Muitos não compreendem e, francamente, não estou nem aí pra essa gente. Sim, estou falando dos meus Cloth Myths.

Se você leu até aqui, deve estar interessado em saber do que se trata. Em poucas palavras, é a versão moderna dos "bonequinhos" (morra!) dos Cavaleiros do Zodíaco (tome!). Apesar de hoje eu ser um cavalão que passou dos trinta há algum tempo, tenho coisas (como a maioria dos mortais) que ninguém explica. Coisas que são por si só. E para que seu choque seja ainda maior, dou casa, comida e roupa lavada para mais de cinquenta cavaleiros do zodíaco...

É uma longa história, que remete aos anos 90. Em 1994 eu era um adolescente comum - talvez mais calmo que o normal - que tinha vários interesses relativos à idade (pegar mulher, musculação, vestibular, etc e tal) e como tal, desprezava qualquer coisa taxada como "infantil". Meus irmãos mais novos, sem querer, plantaram a semente da perdição em mim.

Nessa época eu costumava chegar do colégio por volta de 18:30 e meus irmãos sempre estavam escondidos no quarto assistindo a um "desenho novo" que passava na TV Manchete. Desenho? Bah! Jamais me atrasaria à Academia para perder tempo com isso. Até que aconteceu um feriado, em que assisti a um episódio, em que o protagonista lutava contra uma bicha delicadíssima com cara de passiva, mas com uma voz mais grossa que a minha (por que japonês adora coisas andróginas?)

Assisti para fazer companhia a eles. Dias depois eles me chamaram imperiosamente: apareceu finalmente um cavaleiro que realmente era do zodíaco: o cavaleiro de Leão. Movido pela curiosidade, pelo orgulho e vaidade (afinal era meu signo), fui conferir. Era mais ou menos, mas acabei assistindo àquilo até o final. Pra completar, o leonino ainda era do "bem"...

Outro dia, estava chegando em casa e misteriosamente meus irmãos estavam assistindo ao desenho em plena tevê na sala! Nem lembro o que fez minha avó permitir tal ousadia, só sei que os dois se sentiam no céu. Sentei durante uns minutos e vi que uma deusa chamada Athena levou uma flecha no peito. Para salvá-la, os cavaleiros deveriam passar por doze casas, cada uma guardada por um cavaleiro pertencente a um signo do zodíaco.

O cavaleiro de Áries era bonzinho e os ajudou. Já o de Touro meteu a peia nos protagonistas (que não eram "do zodíaco", não entendi nada). Achei o design de Áries e Touro muito legal, mas não dei muita importância. Dias depois (o desenho tinha não-sei-quantos-capítulos) o Cavaleiro de Câncer tocava o terror em cima de um deles. Disseram que o Cavaleiro de Aquário - com armadura belíssima - tinha aparecido. Até que em outro feriado vi a surra que o Cavaleiro de Leão estava dando em um dos protagonistas. Ué, este não era do bem?


A TV Manchete comprou a série pela metade e nunca imaginou o sucesso que esse desenho faria. Um belo dia, acabaram os episódios - bem no meio de um cacete federal em plena casa de Leão- e começaram a reprisar do começo. A criançada ficou inconformada. "E a deusa com a flecha no peito? E os outros signos?"... Acho que a compra foi motivada pelo fabricante dos bonecos, que exibia as propagandas dos bonecos dos signos, que eram caros pra caramba.

Enfim, fiquei de férias do colégio, fiz o vestibular e fiquei com tempo ocioso. Logo meus irmãos deram o bote e me convidaram para assistir às reprises com eles (crianças nunca se cansam de assistir várias vezes o mesmo desenho). Passei a observar a série com outros olhos, havia uma estrutura que prendia a atenção mesmo. Quando chegava no episódio em que o Cavaleiro de Leão espancava o protagonista, a expectativa era total: vai continuar ou vai repetir tudo de novo?

E a TV Manchete repetia... acho que ela não conseguia comprar o resto da série, sei lá... para as crianças era uma derrota de tal vulto comparada à eliminação do Brasil na Copa do Mundo!

E assim, sem querer querendo, a TV Manchete gerava uma ansiedade cruel aos jovens brasileiros. E eu, apesar das namoradas da época, da academia e do vestibular, já estava tão ansioso quanto meus irmãos pelos episódios inéditos. Até que em abril de 1995 eles vieram. A molecada pirou tanto que os desenhos passavam duas vezes por dia.

O inferno ficou completo quando Satanás, através das Lojas Americanas, trouxe navios gigantescos lotados de bonecos para vender em um Brasil de dólar baixo. Os bonecos, comprados em grandes quantidades, eram vendidos a cerca de um terço do valor inicial. Como as trevas têm de ser tentadoras, lembro que as Lojas Americanas tinham corredores, paredes inteiras cheias de caixas com personagens conhecidos e desconhecidos (que ainda iriam aparecer no desenho, mas já chamavam atenção).

Só que este post ficou longo demais. O desenho já havia me conquistado. E uma parte de mim, que estava morta, seria logo desenterrada...

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