Desta forma, a casa foi povoada por habitantes de várias coleções: Comandos em Ação, He-man, Thundercats, Rambo e por aí vai. Logicamente nem sempre meus planos funcionavam - meu irmão adorava carrinhos, bolas e outros brinquedos e tive o desprazer de vê-lo, em certa e triste ocasião, trocar cinco Comandos em Ação por um caminhão dos bombeiros...
Tudo acabou em 1990, no dia em que minha saudosa avó materna resolveu fazer uma faxina em casa, jogando fora quase tudo o que eu tinha - meu tesouro estava em uma caixa de papelão surrada, que para minha avozinha não passava de lixo (o cão não deixou ela ver o que tinha dentro, rsrsrs). Logicamente fiquei com ódio mortal e o trauma foi tão severo que os bonecos sobreviventes fizeram a alegria do meu irmãozinho caçula, então com um ano e meio de idade.
Foi uma traumática passagem da infância para a adolescência. E sim, perdoei minha vozinha. As coisas passam, né?
Mas em 1995, o que Deus risca ninguém rabisca (personagem de Arlete Sales em Hilda Furacão). Meu irmão do meio resolveu pedir, como presente de aniversário, um boneco dos Cavaleiros do Zodíaco. Eu já era fã da série e recomendei que NÃO comprasse o boneco de Leão (nosso signo) porque o coitado era feio demais... que tal comprar um bonito? E assim ele comprou o Cavaleiro de Libra.
Pronto, estava fodido. O Boneco tinha armadura de metal, que montada no boneco nem era essas coisas. Mas tal qual os Transformers dos anos 80, as peças também podiam montar uma estátua, correspondente ao signo. Libra, obviamente era uma balança - e que balança linda!
Pouco depois foi a vez do caçula. Ninguém tinha pretensão, nem mesada o suficiente para completar a coleção, então o "foco" era riqueza de detalhes. Assim, o Cavaleiro de Peixes foi escolhido. Sem querer querendo, uma coleção se iniciava. Eu, secretamente, nutria e alimentava um sonho através dos meus irmãos mais novos. Afinal, de acordo com a sociedade, eu não tinha mais idade para isso. A mesada limitada ajudava a me esconder nesse armário, eu não poderia me revelar...
Mas quando comecei a trabalhar, poucos meses depois, resolvi chocar a sociedade. Não lembro a ordem, mas sei que Capricórnio, Escorpião e Gêmeos logo se juntaram. Quando consegui dois trabalhos, a coleção foi quase completada. Por um erro de estratégia, deixei para o final os dois personagens mais "feios", mas que eram os mais populares: Leão e Sagitário. Ambos se esgotaram e, ao ter dinheiro na mão, a febre dos cavaleiros já havia passado.
O Leão foi fácil conseguir: um vizinho tinha e me vendeu. Mas quanto ao Sagitário, apesar de outro vizinho tê-lo, minhas ofertas foram continuamente recusadas. Crimes foram pensados, chantagens também, mas deixei pra lá e fiquei DEZ ANOS com onze signos. Eu já tinha outras preocupações na vida. Era preciso trabalhar, fazer faculdade, resolver conflitos de personalidade, sustentar a casa, comprar carro, ter relacionamentos, enfim, viver a vida adulta.
Mas meus onze companheiros estavam montados em meu guarda-roupa, sempre fiéis, me acompanhando em minhas realizações e dramas. Era meu tesouro secreto. Tudo bem que o metal já enferrujava e as peças de plástico desbotavam, mas estavam ali.
Soube que uma nova coleção, bem mais fiel e perfeita havia sido lançada em 2004. Tão superior em detalhes àquela possuída por mim que ganhou um novo nome: "Cloth Myth". Diziam que a tinta era muito mais resistente, que não enferrujavam. Em 2005 cheguei a pegar, numa loja, na caixa do Cloth Myth de Virgem. O problema é que o que eles tinham de modernos e perfeitos, também tinham de caros, não valeria a pena. Tinha outras prioridades.
Tenho uma amiga chamada Mônica, que não sabe ser a responsável pela minha perdição. Desde 2001, sempre em seu aniversário, eu a presenteava com um personagem da coleção "Mônica Baby". Em 2006, seu aniversário havia passado e prometi a ela o Cascão, que era difícil de achar (a coleção havia parado de ser produzida). Certo dia, em um shopping, deixei a cara-metade na fila do cinema e fui em uma loja de brinquedos procurar pelo presente.
Ao procurar pelo Cascão - que não tinha na loja - acabei dando de cara com quem? Com a versão moderna do único signo que faltava na coleção: Sagitário em versão Cloth Myth. Eu já sabia que alguns signos tinham sido importados, nunca dei bola, mas dias antes havia lido na internet que a importadora não repetiria pedidos de personagens já trazidos.
Pronto, o estrago estava feito. Ou teria o Sagitário naquele momento ou não teria nunca mais.
Respirei fundo e o preço (R$ 115 reais na época) fez o resto: deixei a caixa na loja e fui assistir ao filme. Não podia gastar dinheiro - e que dinheiro! - com isso. Minha cara-metade me daria as contas se eu cogitasse tal ousadia. Não seria daquela vez, afinal, eu era adulto, tinha juízo, estava "casado" e as revistas da Marvel já eram afronta suficiente ao meu relacionamento.
Bom, nem preciso dizer o que aconteceu. Cada Cloth Myth tem uma história em particular e as razões que me levaram a comprar o primeiro deles (Sagitário) estarão no review que farei dele. Espero fazer uma avaliação por semana, pois descobri muita gente que admira a coleção, muitos me perguntam como eles são, outros querem ver fotos e por aí vai. Até lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário